terça-feira, 9 de outubro de 2012

Filhos do progresso

- Sabe, dessas coisas que lhe digo, já sonhei algumas vezes. Ás vezes lembro-me deles, outras esqueço logo após tê-los concebido, mas de qualquer forma, sei que sonho. Um desses sonhos me chamou atenção e, logo após acordar, forcei-me a memória a fim de guardá-lo em minha mente, pois algum dia poderia me ser útil.

Era um outro mundo. Não outro planeta, mas outro mundo,  outra sociedade, de homens é claro. Era uma civilização avançada, análoga à nossa, mas os seus costumes me eram desconhecidos e com isso, não posso dar muitas explicações acerca deles. Não sei lhe dizer se era no passado ou futuro, ou mesmo fora do tempo. Apenas Era.
Os homens trabalhavam incessantemente e, incansavelmente produziam conhecimento. Nasciam, cresciam, estudavam, aprendiam, produziam, progrediam. Tudo conduzia a uma evolução. Mas, paradoxalmente e ironicamente, ela nunca chegava. Os homens, assim como nós, matavam-se, oprimiam-se, castigavam-se. Tudo em nome da liberdade. Falavam diversas línguas, mas de alguma forma, se comunicavam com o mundo todo. Tudo era interligado, parecia uma grande rede, e de fato, chamavam-na de Rede. Diziam-se reis da criação. De um lado, produtos finais da evolução, gerados pelo acaso, mas coroados pelo inevitável. De outro, eram coroados pela predestinação, produtos de um pensar perfeito e consequências de um chamado Deus. De qualquer forma, eram juízes e carrascos. E nesse pensamento, derramavam sangue. Fico pensando, se não é isso que estamos produzindo. Se não é atrás de sangue que estamos nos agrupando. Mas devo me calar. A civilização é necessária, pelo menos, é o que nos fazem pensar. Mas ainda acho que para nos mantermos silenciados, devemos criar uma espécie de ligação. Ligação com essa força, a quem no meu sonho, chamam de deus. Talvez essa ligação criada à nossa semelhança, possa tornar as pessoas mais maleáveis. Que tal? Poderíamos chamá-la de Religião! É um nome forte e conciso! Aposto que por muitas gerações, ela se manterá de pé, apenas pelo mito que podemos criar em torno dela! E mais! Por ser flexível à suposta vontade dos homens, ela pode adquirir muitos nomes e alcançar até essa civilização avançada que fala diversas línguas! Imagine! Em cada língua, uma religião! Em cada povo, um deus! E no fim das contas, foram todos criados por nós mesmos afim de nos prendermos! Ah, esses meus sonhos! Me dão tantas inspirações!

- Porque não se cala e volta a trabalhar? A Torre não se construirá sozinha!

- A propósito, já sabem o nome que vão dá-la?

- Rumores a chamam Babel.




Lucas Vizani

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